Além do couro, indústria transforma boi em 250 subprodutos

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Indústria aproveita o boi em 250 subprodutos

Couro: Brasil é o terceiro exportador do produto no mundo, movimentando mais de US$2 bilhões ao ano em vendas para mais de 80 países (Alfribeiro/Getty Images)

 

A indústria consegue transformar um boi em 250 subprodutos. Ao todo, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aponta que 49 segmentos industriais dependem destes derivados bovinos, classificados em comestíveis e não comestíveis.

Entre os subprodutos comestíveis, o fígado é o mais consumido. Já entre os não comestíveis, o produto mais demandado é o couro. Depois de tratada, a pele bovina é transformada em couro e utilizada na fabricação de calçados, revestimentos, material esportivo e artigos de luxo.

O Brasil já é o terceiro principal exportador do produto no mundo, movimentando mais de US$2 bilhões ao ano em vendas para mais de 80 países. O valor contribui para o faturamento da cadeia pecuária, que atingiu 153,13 bilhões de reais em 2022, de acordo com dados da Secretaria de Política Agrícola, subordinada ao Ministério da Agricultura e Pecuária.

Aqueles que não podem ser consumidos, são desmembrados em diferentes subprodutos. Por exemplo: a bílis tratada do boi, que é usada em produtos farmacêuticos para problemas digestivos e cálculo biliar, é vendida, seca, para países do Oriente.

10 subprodutos derivados do boi

  • A insulina para diabéticos é extraída do pâncreas bovino
  • O sebo, não comestível, esse serve para produção de velas, de sabão e de sabonetes perfumados
  • Dos pelos da cauda do boi são fabricados pincéis e escovas de cabelo, de roupa e de limpeza
  • Dos chifres são extraídos componentes usados no pó do extintor de incêndios
  • Ossos, fonte de cálcio e fósforo, são usados na produção de farinhas e rações para cães, gatos e aves
  • Os ossos também são usados na fabricação de porcelana, cerâmica e na refinação de prata
  • Em usina de açúcar, utiliza-se o carvão de osso para alvejar e refinar doces, biscoitos, tortas e bolos
  • O sangue dos bovinos é aproveitado para a produção de plasma, usado na fabricação de embutidos
  • O soro extraído do sangue é destinado para confecção de vacinas
  • A farinha de sangue é aplicada como fertilizante

Couro responsável

Com grande demanda da indústria automobilística e da moda, os curtumes vêm sendo cobrados para atender aos mercados mais exigentes, como a Europa. Neste contexto, o Parlamento Europeu aprovou, em junho passado, o Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), lei que proíbe a importação de produtos originários de áreas desmatadas após dezembro de 2020.

A indústria do couro é reconhecida pelo aproveitamento da pele que, potencialmente, seria descartado pelos frigoríficos, mas ainda assim enfrenta desafios na agenda socioambiental, como o desmatamento em biomas como Amazônia e Cerrado e a falta de garantia de bem-estar animal. Nesse contexto, aumenta a necessidade de investimento em rastreabilidade, auditorias e certificações.

No Brasil, os curtumes começam a direcionar esforços para atender aos importadores em conjunto com a cadeia pecuária. O Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB) revela que o país tem 244 plantas curtidoras, 2,8 mil indústrias de componentes para couro e calçados e 120 fábricas de máquinas e equipamentos, gerando 30 mil empregos diretos.

“O couro, se não vira produto, é apenas um resíduo. Dessa forma, a indústria pode ser vista também como uma propulsora da sustentabilidade dentro da pecuária. Como lidam com o 1% do valor negociado por uma cabeça de gado, os curtumes acabam tendo pouco poder de influência, mas têm papel estratégico para promover mudanças no setor, pois, quando comparado à carne, comercializa maior volume com mercados mais exigentes", diz Lisandro Inakake, Coordenador de Projetos em Cadeias Agropecuárias do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

Com o aumento da pressão do mercado, as gigantes compradoras dos curtumes e as certificadoras do setor aumentaram a lista de exigências progressivamente nos últimos anos, colocando como critérios obrigatórios informações como nome dos frigoríficos de origem do couro e localização, até as listas completas das fazendas por onde aquele gado passou.

Pecuária na Amazônia

De olho nisso, a empresa Durlicouros firmou um memorando de entendimento com o Imaflora, com foco no protocolo Boi na Linha -- iniciativa desenvolvida em conjunto com o Ministério Público Federal para fortalecer os compromissos socioambientais da cadeia da carne bovina na Amazônia. A parceria visa o engajamento e capacitação de frigoríficos médios no sentido de implementarem políticas de compra responsável, sistemas de monitoramento de fornecedores e processos de auditoria.

 “Percebendo o movimento de criação de novas políticas de compra dos clientes, também avançamos com a estratégia de sustentabilidade a partir da criação de um sistema próprio de monitoramento e dupla checagem dos fornecedores”, diz Ivens Domingos, Gerente de Sustentabilidade na Durlicouros.

Fonte: Exame

17/08/2023

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