Esta publicação inaugura uma série de análises retrospectivas sobre o mercado lácteo em 2025. Para iniciar, o foco recai sobre o tema que mais marcou o setor ao longo do ano: a oferta de leite. Ao longo de 2025, a captação de leite apresentou um crescimento bastante expressivo, e esta análise busca explicar como esse movimento evoluiu ao longo dos trimestres e quais foram suas principais consequências para o mercado.
O gráfico acima apresenta dados da Pesquisa Trimestral do Leite (PTL/IBGE), que mede o volume de leite cru recebido por laticínios com inspeção federal, estadual ou municipal. Em outras palavras, o indicador representa a captação formal de leite, isto é, o volume que entra oficialmente nas indústrias para ser processado. Para facilitar a compreensão e evidenciar melhor os impactos ao longo do ano, a análise será realizada trimestre a trimestre.
Primeiro trimestre de 2025
O ano começou acelerado: O preço ao produtor iniciou 2025 em patamares mais altos do que em períodos anteriores e os principais custos não estavam pressionando, o que manteve a produção estimulada. Até essa primeira divulgação, os números vinham muito alinhados às expectativas do mercado, sem grandes surpresas.
Segundo trimestre: onde o cenário muda
A partir do segundo trimestre, a oferta brasileira de leite passou a surpreender. Foi nesse período que alguns impactos recentes e mudanças na estrutura produtiva do setor ficaram mais evidentes.
O principal fator por trás do avanço expressivo da produção no segundo semestre foi a manutenção da rentabilidade em níveis satisfatórios, tanto em comparação com períodos anteriores quanto no próprio momento. Esse resultado foi sustentado por um cenário de custos relativamente equilibrados e por preços ao produtor ainda atrativos, combinação que estimulou a produção. Somado a isso, observou-se ao longo de 2025 um processo mais intenso de formalização, que elevou o volume de leite captado pela indústria.
Além desses fatores, é importante lembrar que o segundo trimestre de 2024 havia sido afetado por fortes chuvas no Sul, o que reduziu a captação naquele período. Portanto, parte do crescimento registrado em 2025 reflete também uma base comparativa mais baixa.
No entanto, o movimento vai além desse efeito estatístico. Paralelamente, o setor vem passando por transformações estruturais importantes. A pesquisa “Quem produz o leite brasileiro 2025”, que apresenta os principais perfis de produção e as mudanças no elo produtivo, aponta para o avanço dos sistemas mais intensivos, como o confinamento.
Esse avanço reduz a influência da sazonalidade sobre a produção nacional, diminuindo a diferença entre os volumes de pico e de vale ao longo da curva produtiva. Como consequência, o período tradicionalmente associado ao vale, normalmente concentrado no segundo trimestre, tende a se tornar mais suave e, em alguns casos, até mesmo a ocorrer de forma antecipada.
Ou seja, ainda que o setor esteja passando por um processo de transformação há algum tempo, estas mudanças começaram a aparecer de forma mais clara e contundente nos dados de captação deste ano.
Terceiro trimestre: Confirmação do cenário
Os dados prévios do terceiro trimestre confirmam que 2025 deve se consolidar como um ano de forte crescimento produtivo. A prévia do terceiro trimestre aponta um avanço de 10,3%. Este incremento não ocorreu isoladamente: a ausência de problemas climáticos significativos, um fator simples, mas decisivo, permitiu maior regularidade no manejo, melhor desempenho das pastagens e maior estabilidade das condições de produção. Com isso, o setor conseguiu sustentar um ritmo consistente de crescimento ao longo de todo o ciclo anual.
Quarto trimestre: O que esperar
Ainda que os dados do último trimestre só sejam publicados no início de 2026, a leitura dos três trimestres já divulgados, somada ao comportamento recente do mercado, permite antecipar que o quarto trimestre também deverá apresentar crescimento da captação em relação aos anos anteriores.
O último trimestre de 2025 foi influenciado pela presença do fenômeno La Niña, porém com baixa intensidade, o que não deve ter gerado grandes impactos na produção. Mesmo assim, esse avanço tende a ser menor em comparação aos trimestres anteriores, já que a rentabilidade começou a perder força e a pressionar o produtor ao final do ano.
Apesar disso, a expectativa é de que a divulgação confirme um 4º trimestre com crescimento na oferta.
Retrospectiva 2025
Nessa conjuntura, com 2025 marcado por um crescimento expressivo da produção, algumas consequências importantes surgiram: O aumento contínuo da oferta levou a indústria a ampliar sua produção de derivados ao longo do ano. Entretanto, a demanda por lácteos, tema que será detalhado na próxima análise, não acompanhou esse ritmo, o que impediu a absorção completa do volume adicional produzido.
Esse descompasso resultou na formação de estoques mais elevados nas indústrias, pressionando os preços dos derivados e reduzindo as margens industriais. Esse cenário rapidamente se transferiu para o campo, refletindo em quedas intensas no preço ao produtor ao longo do segundo semestre, especialmente no último trimestre.
Em síntese, embora o ano tenha sido marcado por forte avanço produtivo, este acabou rompendo o equilíbrio entre oferta e demanda.
Após um ano marcante em relação aos movimentos da oferta, a retrospectiva seguirá aprofundando os principais fatores que moldaram o mercado, como: demanda, preços internacionais e preços dos derivados. Nas próximas semanas, serão divulgados novos gráficos e análises, incluindo também as tendências projetadas para 2026.











