A responsabilidade de quem fala pelo leite

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O agro ganhou espaço nas redes sociais. Veterinários, estudantes e produtores passaram a mostrar sua rotina no campo, aproximando o público urbano e ajudando a construir pontes entre o campo e a cidade. Até aí, excelente! Afinal o público urbano urge por se conectar com o campo.

O problema começa quando a busca por engajamento ultrapassa o limite da ética, da responsabilidade técnica e do bom senso. 

Cada vez mais, vemos conteúdos que transformam situações delicadas — como partos distócicos, doenças ou procedimentos invasivos — em espetáculo. Vacas em sofrimento, bezerras com complicações, ou até protocolos de tratamento sem respaldo científico nenhum são mostradas sem contexto, sem explicação técnica e, pior, muitas vezes de forma incorreta. O resultado? Um desserviço que ameaça não apenas a credibilidade de quem produz, mas todo o setor leiteiro. 

Segue uma lista com três riscos reais que estamos vivendo:

A formação dos jovens profissionais em Ciência Animal

As redes sociais tornaram-se uma das principais fontes de informação para estudantes e recém-formados. O problema é que muitos desses “influencers do campo” ou não têm a formação e experiência técnica adequada — ou, quando têm, sacrificam o conhecimento técnico para gerar visualizações e venderem seus posts, cursos e afins.

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Assim, jovens profissionais são expostos a protocolos cientificamente não comprovados, ilusões de cursos que os prometem deixá-los milionários e tantos outros prejuízos para toda uma classe profissional que está apenas começando

O produtor em risco

Muitos produtores, especialmente os mais jovens e conectados, acabam reproduzindo o que veem nas redes sociais. Aplicam protocolos sem supervisão veterinária, adotam práticas de manejo que não fazem o menor sentido ou tentam “copiar” procedimentos que exigem formação técnica.

Um vídeo irresponsável pode gerar danos irreversíveis aos animais, prejuízos econômicos e risco à segurança alimentar.

Não se trata de censura — trata-se de responsabilidade! Quem fala para o público precisa obrigatoriamente entender o peso da própria voz. Um conteúdo equivocado pode custar muito mais do que curtidas: pode custar a vida de animais, a reputação de uma fazenda e danos a saúde pública

A imagem pública do setor leiteiro

O terceiro e talvez mais perigoso impacto é o risco reputacional.

Quando vídeos de vacas em sofrimento, partos complicados ou procedimentos dolorosos são postados fora de contexto, sem explicação técnica ou sem mostrar o cuidado envolvido, a mensagem que chega ao público urbano é distorcida.

O resultado? O combustível perfeito para movimentos contrários à produção animal. 

Uma única postagem mal pensada pode colocar todo o setor numa posição dificílima de reverter, abrindo espaço para campanhas de desinformação e ataques ao consumo de leite e derivados.

Influenciar é também educar

O termo “influencer” vem de influenciar — e isso exige consciência.

Quem fala sobre vacas, fazendas e ciência animal fala em nome de toda uma cadeia. Mostrar a realidade do campo é importante e necessário, mas isso deve vir acompanhado de contexto técnico, ética e empatia.

Às empresas que sustentam as postagens patrocinadas, o recado é muito simples: Cuidado para que isso não seja um grande tiro no pé para todo o setor. Contratar um influenciador deve primeiro passar pelo filtro técnico e depois ético e não apenas pela visualização da marca. Quantos produtos foram derrubados por publicidade irresponsável ao longo das últimas décadas

O leite é um alimento nobre. E comunicar sobre ele exige nobreza equivalente.

Fonte: MilkPoint

23/10/2025

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