Como os produtores de leite estão lidando com os desafios atuais do clima?

leiteiro.jpg

Olá pessoal, tudo bem? Como andam as coisas? Muito calor, frio, chuva ou sol?

Hoje iremos falar um pouco sobre os desafios do clima enfrentados pelos produtores de leite em nosso Brasil, mas antes, precisamos, ou melhor, necessitamos falar um pouco de evolução.

Sim, evolução. Desde os tempos mais antigos em que em algumas propriedades rurais, especialmente, nossos avós, tiravam leite para o consumo. Neste cenário, eu notava minha avó ordenhando uma vaca manualmente utilizando-se de um recipiente que era uma panela de pressão velha, com as bordas cortadas.

Os animais eram ordenhados na própria cocheira ou mangueira, curral, ou seja como você a chama. Ali, os animais eram peiados (amarrados os pés traseiros para não darem coice), o bezerro amarrado e o leite devidamente ordenhado. Sempre como muito respeito ao animal, que era cuidado sempre. Sinceramente não sabia se ele tinha uma alimentação adequado durante todo o ano pois eu ainda não era zootecnista, mas sabia que este animal (me lembro muito bem disso) possuía potencial genético para produzir mais.

Vovô tratava os animais após a ordenha com milho. No pasto tinha muita árvore para sombra. Água limpa a vontade. No frio, não tinha muito o que fazer... eu observava isso. Os animais não morriam jamais, mas emagreciam.

Pessoal, depois desta rápida reflexão podemos refletir aqui que nos dias de hoje algo tem que ter mudado, não é? Mudado no modo de agir, pensar e planejar. Isso é o que eu espero de todos nós.

Especificamente escrevendo agora sobre o clima, temos sim um cenário bem assustador, como não chover na época que deve chover; ventar em época errada; ou frio quando é para fazer calor. É uma situação delicada e preocupante, mas ao meu ver, para aquele que não se planeja.

Fazendo uso de duas linhas de trabalho que atuo, sendo a docência (professor universitário) e consultor técnico (assistência técnica em zootecnia), preconizo muito um fator chamado pé atrás. Como é isso professor. Como é isso consultor?

Ao produzir leite (e não tirar leite) eu devo, sem sobra de dúvidas, me planejar. Sim, para começar, não posso trazer as vacas antes do pasto. Se for em época seca que elas irão chegar, não posso trazê-las antes da silagem pronta, uma vez que os pastos não produzem no inverno. Com isso, consigo negociar mais com o problema. Lembra da história da formiguinha que carrega o alimento e o outro animal dorme?

Na produção de leite seja em pasto ou confinamento, guardando as devidas proporções dos dois, dentro dos seus sistemas, o que devemos saber é o que eu vou precisar. Quanto de comida, água, ração, instalação ou qualquer outra utilidade que terei, deve ser muito bem planejada. Quando planejamos, atuamos de forma mais calma e reagimos mais rápido e eficiente ao problema quando comparado para momentos de desespero em função de algo ruim que já aconteceu. Pensar com calma, significa que tenho tempo.

Pontuando agora para todos nós os desafios do clima para a produção, nos deparamos com produtores sem comida, em função da falta de chuva por exemplo. Muito calor pela falta de sombra. Vacas babando pelo estresse térmico. Animais abortando gestação pelo calor e falta de alimento. E por último, o resfriador de leite vazio.

Entre todos os fatores do clima, com certeza não é tão pior quanto a falta de comida. Não foi falta de adubo. Foi falta de chuva. Não choveu, perdi tudo... é o que eu mais ouço.

Senhores, quero ressaltar que precisamos utilizar mais ferramentas para perder menos. Dentre elas, talvez plantar mais, adubar, mudar o capim, mudar o híbrido da silagem, mudar a forma de plantar, mudar a semeadora e consorciar. 

Talvez tudo isso possa ainda melhorar utilizando o radinho de pilha na hora que o locutor fala sobre o clima e as previsões deste ano. Já ouvi assim: o homem do rádio falou que este ano vai ser de seca. Mas o engraçado (e triste ao mesmo tempo) é que o produtor ouve isso e não faz nada!

Então vamos fazer o seguinte. Se faltar chuva, além de plantar mais, vamos plantar de outra forma, por exemplo em plantio direto, aquele que mantém o solo mais úmido em função da palhada. Vamos mudar o híbrido ou de milho para milheto, uma espécie que tolera mais a falta de água por exemplo. Depois corrigimos na ração a diferença de qualidade. Manejo possível, ok! Então resolvemos um pouco da comida. Mas vamos escutar o cara do rádio ou olhar a  previsão do tempo no celular! 

Sobre o calor, vamos abrir uma janela na ordenha. Mudar o bebedouro de lugar e colocar umas cortinas. Vamos fazer uma cerca viva para melhor a sombra e a velocidade do vento nos dias frios. Vamos pensar também em ventiladores, o que acham?

Talvez pensar em forro da cobertura da ordenha. Uma ordenha mais rápida para os animais sofrerem menos com o tempo que ficam na ordenha. Vacas mais adaptadas ao clima da minha região. Antes eram vacas holandesas, mas agora com este calor, vamos para as girolandas. Podemos comprar holandesas agora, se estiver mais frio certo?

Pessoal, não quero me estender muito, mas tudo isso se resolve, em 90%, com o planejamento da produção que você utiliza. E os outros 10%? Melhor perder 10% do que 100%. Tem como resolver. Precisamos nos adequar. Se o clima muda, quem tem que mudar junto sou eu. Pensem nisso.

 

Fonte: MilkPoint

Acesse a matéria aqui

06/03/2025

Newsletter