Com as nossas andanças pelo Brasil afora, temos comumente, e infelizmente, nos deparado com uma dura realidade na recria de novilhas leiteiras: Novilhas com crescimento muito aquém do esperado por técnicos e gestores de fazendas.
Primeiramente, é importante entender que o real valor das novilhas leiteiras raramente está no animal por si só, mas no que elas representam para o futuro da propriedade rural, um animal para reposição ou expansão do seu rebanho em lactação. Para que essa novilha “se pague”, ela precisa emprenhar e parir em tempo hábil. Então, com qual idade essa novilha deve emprenhar e qual idade essa novilha deve parir?
Como objetivo da maioria das propriedades leiteiras, novilhas devem emprenhar em torno dos 15 meses e parir próximo aos 24 meses de idade. Porém, o que temos visto é muito diferente e pior que isso: Novilhas emprenhando aos 21 e parindo aos 30 meses. Pare e reflita: O que estamos fazendo, ou deixando de fazer, para que as novilhas “entrem em reprodução” aos 13 ou 14 meses de idade, mas só consigam emprenhar aos 21 meses? Com certeza, você está se remoendo ao lembrar de quantos protocolos de sincronização de ovulação foram gastos, quantas doses de sêmen foram usadas, toda frustação com o processo e com os profissionais envolvidos.
A reprodução de fêmeas bovinas é ligada ao peso corporal. Buscamos que novilhas emprenhem com 65% e alcancem ao parto com pelo menos 85% do peso adulto. Isso significa emprenhar com aproximadamente 420 kg e parir com no mínimo 550 kg para um animal de 650 kg de peso corporal adulto.
Então, o que esses animais estão fazendo entre 14 e 21 meses de idade, da “entrada em reprodução” até a prenhez de fato?
Resposta é simples: Possivelmente crescendo, chegando o mais perto possível do peso corporal adequado, 65% do peso adulto, para então emprenhar. Tão importante quanto o peso corporal, é a composição corporal desse animal. Não adianta ser apenas uma novilha pesada (escore de condição corporal alto), mas precisa também ter estatura, profundidade corporal etc. Em termos populares, o animal precisa ter “caixa”.
Voltando às nossas andanças, percebemos exatamente a falta de estatura, profundidade, “caixa” nas novilhas leiteiras. E grande parte disso está relacionado ao nível de proteínas das dietas. Explicando de modo simplista, o NASEM (2021), livro-guia na nutrição de vacas leiteiras, recomenda que novilhas leiteiras recebam dietas (ração + volumoso) com níveis de proteína bruta variando aproximadamente de 13 a 20% (em matéria seca), dependendo do peso corporal e estágio da gestação. Salientamos que esses níveis de proteína são para a dieta final, e não apenas para a ração.
Considerando que a maioria dos volumosos no Brasil dificilmente excedem 10% de proteína bruta na sua composição (em matéria seca), e que usualmente usa-se de 1 a 3 kg/novilha/dia de alguma ração comercial ou customizada contendo de 16 a 20% de proteína bruta, os níveis de proteína na dieta final raramente excedem 11%. Portanto, estamos colocando esses animais em situação de déficit nutricional, o que diretamente afeta o crescimento e desempenho reprodutivo. E como mudamos essa situação? A resposta para a pergunta anterior é simples. Precisamos usar rações ou concentrados proteicos que contenham 32 a 40% de proteína bruta na sua composição e, obviamente, ajustar o consumo. Isso eleva o nível de proteína bruta na dieta final ao mínimo de 13% (em matéria seca).
Essa “tecnologia” não é nova e nem restrita. Todos os bons programas de formulação de dietas para vacas leiteiras conseguem modular o efeito de proteína mais alta na dieta e, pasmem, melhora significativamente o ganho de peso desses animais. Por consequência, reduzimos a idade à prenhez. Como comparação, novilhas e garrotes de corte no período de recria também ganham mais peso quando comem dietas (e rações, concentrados, suplementos, etc.) com níveis mais altos de proteína.
Importante é entender quanto um investimento custa a longo prazo. Nesse caso, temos certeza de que nutrição mais adequada, focada no crescimento da novilha, é muito mais barato quando contabilizada no ciclo da recria do que manter um animal comendo para crescer por 6 meses adicionais. Pense no leite que você poderia estar produzindo 6 meses antes.
Entendemos que nutrição proteica vai muito além da discussão superficial sobre proteína bruta. Porém, vemos tanta ineficiência no campo que optamos por discutimos apenas sobre esse nutriente que é de fácil compreesão. Se conseguirmos com que a maioria entenda a importância de ofertar mais proteína para novilhas, com certeza seremos eficientes enquanto técnicos. Aí, talvez faça mais sentido discutir sobre refinamento de dietas para novilhas leiteiras.
Apenas para plantar a semente da curiosidade: É muito interessante ofertar ração inicial de bezerras juntamente com volumoso para novilhas até 5 meses de idade. Mas isso é papo para uma outra oportunidade.
Fonte: MilkPoint











