A pecuária brasileira atingiu um marco histórico em 2025: tornou-se a maior produtora global de carne bovina, superando os Estados Unidos.
Em entrevista ao Giro do Boi, o médico veterinário e consultor Fernando Furtado Velloso, afirmou que esse sucesso é impulsionado diretamente pela heterose (choque de sangue) e pelo acasalamento dirigido, ferramentas que permitem produzir mais arrobas em menos tempo e em áreas menores.
A estratégia de utilizar raças taurinas sobre a base zebuína (Nelore) permite um “giro de estoque” muito mais acelerado, entregando carcaças pesadas e carne premium com eficiência e sustentabilidade.
O poder da heterose e o cruzamento industrial
A heterose ocorre quando o desempenho da progênie é superior à média dos pais, resultado do cruzamento entre raças geneticamente distantes. No Brasil, essa técnica é o motor da produtividade:
- Domínio taurino: o cruzamento industrial representa cerca de 40% das doses de sêmen vendidas no país. As raças Angus e Brangus lideram o mercado, seguidas pela forte retomada do Charolês moderno no sistema Tricross (Charolês x fêmeas F1 Angus/Nelore).
- Novilhas superprecoces: o acasalamento dirigido, focado em touros com baixo peso ao nascer, permite emprenhar novilhas F1 muito jovens (zero dentes). O resultado é a produção de bezerros pesados e de ciclo curto, maximizando o lucro por hectare.
- Sêmen e genética nacional: em 2025, o mercado de taurinos cresceu 25%, com destaque para a raça Angus. Além disso, a contratação de touros taurinos nacionais pelas centrais reduziu a dependência de genética importada, focando em animais mais adaptados ao clima tropical.
Tecnologia embarcada e tendências globais
Assim como em outros setores tecnológicos, o touro moderno é um “pacote de dados”. O especialista alerta que a seleção agora busca características que vão além do ganho de peso, alinhando a pecuária brasileira às exigências globais:
- Sustentabilidade e precisão: a tendência, vinda de mercados como a Austrália, exige reprodutores que entreguem neutralidade de carbono (menor emissão de metano), eficiência alimentar e reprodução de precisão.
- A diferença no campo: ainda existe um desafio: o “desencontro” entre touros de central (com avaliação genômica e provas de performance) e touros “cabeceira de boiada” sem avaliação, que ainda cobrem muitas vacas a campo. O lucro real está no uso de genética comprovadamente melhoradora.
Perspectivas: o ciclo de alta
Com o preço da carne exportada superando os US$ 5.000 a tonelada em dezembro de 2025, o cenário é de otimismo. Para Velloso, o momento exige equilíbrio e gestão para aproveitar os ventos favoráveis.
“O momento agora é que a onda está levando o surfista. O vento e o mar estão a favor; é hora da pecuária brasileira surfar esse ciclo de alta com equilíbrio e gestão”, disse Velloso.
Fonte: Giro do Boi











