A rentabilidade é a forma de avaliar se o dinheiro investido em um empreendimento está, de fato, gerando retorno financeiro. No caso das fazendas leiteiras, o primeiro fator que geralmente associamos a esse resultado é o preço pago pelo litro de leite. No entanto, diversos outros aspectos podem ser igualmente ou até mais determinantes para o desempenho econômico.
Segundo dados do benchmarking Rehagro, que compara os resultados econômicos de 55 fazendas responsáveis por mais de 600 mil litros de leite por dia, todas com informações conciliadas com o banco e estoques auditados, a diferença no preço recebido pelo litro de leite entre as 11 fazendas mais eficientes e as 11 menos eficientes é relativamente pequena, apenas R$ 0,16. Por outro lado, o custo operacional, que considera vacas em produção e em reposição, apresenta uma disparidade muito maior, chegando a R$ 0,68 por litro de leite.
Em uma atividade que opera com margens tão apertadas quanto a bovinocultura leiteira, a eficiência no uso de recursos torna-se essencial. Foi justamente sobre isso que falou Gabriel Gouvea, consultor da Rehagro, durante o 3º Fórum Nacional do Leite. Com base em sua palestra, reunimos alguns dos principais fatores que podem estar comprometendo a rentabilidade da sua produção.
Taxa de prenhez
A taxa de prenhez é um indicador fundamental quando buscamos aumentar a rentabilidade das propriedades leiteiras. Ela está diretamente ligada ao lucro das fazendas: estima-se que, a cada ponto percentual de aumento nesse índice, o ganho seja de cerca de R$ 0,08 por litro de leite.
No entanto, essa relação não é linear. Trata-se de uma resposta quadrática: os ganhos aumentam de forma expressiva até determinado ponto e, a partir daí, tendem a se estabilizar. Mesmo com essa estabilização no ganho por litro de leite, uma taxa de prenhez acima de 30% continua sendo altamente positiva para a fazenda, pois assegura maior número de fêmeas nascidas por ano.
Gráfico 1. Efeito da taxa de prenhez (%) sobre o lucro operacional (R$/L)
Taxa de reposição equilibrada
Assim como a taxa de prenhez, a taxa de reposição também é um fator determinante para a lucratividade de uma fazenda leiteira, embora apresente particularidades importantes. A introdução de novilhas de reposição no rebanho traz benefícios, como a substituição de vacas improdutivas e o ganho genético que esses animais representam. No entanto, a taxa de reposição muito alta pode se tornar um problema para a propriedade.
Isso acontece porque, em geral, as novilhas produzem menos leite na primeira lactação e, segundo estudos, geram custos adicionais para a propriedade.
Por esse motivo, análises de benchmarking da Rehagro apontam que uma taxa de reposição ideal situa-se entre vinte e cinco e trinta por cento, como mostra o gráfico a seguir.
Gráfico 2. Efeito da taxa de reposição (%) sobre o lucro operacional (R$/L)
Gestão de custos
Uma má gestão de custos de produção é outro fator que pode estar fazendo com que sua fazenda não seja tão rentável quanto você gostaria.
Segundo dados do benchmarking Rehagro apresentados por Gabriel durante sua palestra, podemos observar que 87% dos custos de produção por litro de leite de uma fazenda se dividem em 4 itens:
- Alimentação
- Reposição
- Mão de obra
- Sanidade
Fazendas com custos bem estruturados, mesmo com menor volume de produção, conseguem margens de lucro superiores às de propriedades maiores, mas menos eficientes. O benchmarking mostra que aumentar a escala não reduz automaticamente o custo por litro, já que, na maioria dos casos, os custos absolutos dos principais itens sobem junto com a expansão da propriedade.
O controle de custos deve, portanto, focar na eficiência física e financeira dos recursos, monitorando indicadores como custo alimentar por litro, produtividade de mão de obra e custo de reposição de animais.
Mesmo reduções aparentemente pequenas no custo de produção podem gerar ganhos expressivos no resultado anual como pode ser observado na seguinte tabela:
Tabela 1. Impacto anual da redução de R$0,01 no custo de produção do litro de leite em fazendas com diferentes volumes diários de produção.
Gestão de caixa
Por fim, mas não menos importante, a gestão de caixa é outro fator que influencia diretamente nos ganhos da sua propriedade. É ela que permite antecipar e planejar a melhor forma de cumprir compromissos, garantindo previsibilidade e equilíbrio financeiro ao longo do ano.
Um bom controle de caixa também orienta decisões estratégicas da produção, como identificar o momento certo para aumentar o número de animais, realizar investimentos em infraestrutura ou comprar insumos em condições mais vantajosas. Essa visão integrada entre operação e finanças fortalece a rentabilidade e dá segurança para que o produtor aja de forma planejada, e não reativa, diante das variações do mercado.
Concluindo
Diante de todos esses fatores, fica claro que as fazendas mais rentáveis não são necessariamente aquelas que recebem o maior preço por litro de leite. O que realmente diferencia os resultados é a capacidade de integrar uma gestão zootécnica eficiente ao controle de custos e à gestão de caixa.
Propriedades que trabalham com essa abordagem conseguem operar com máxima eficiência, aproveitando ao máximo seus recursos e garantindo sustentabilidade financeira, mesmo em um mercado de margens apertadas.
Fonte: MilkPoint
