Fávaro defende expandir inovações no crédito rural

foto-istock-mapa.jpeg

Apesar das adversidades climáticas que castigaram o campo, dos preços achatados das commodities agropecuárias e de crises pontuais em alguns segmentos, como a produção leiteira nacional, o ano de 2023 deve ser comemorado na avaliação do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Safra recorde de grãos, inovações no crédito rural e aberturas de mercados estão na lista positiva da Pasta.

Em uma conversa no fim de novembro, Fávaro relatou com entusiasmo os 65 mercados abertos para produtos agropecuários brasileiros até então. O ano vai ser encerrado com 76 aberturas, como a de ovos férteis de peru para a Bolívia, uma das mais recentes. “Isso garante a competitividade. Se os preços estão achatados, então temos que abrir mais mercados”, afirmou.

Aberturas históricas deram mais peso à lista recorde de mercados conquistados, reforça Fávaro. Uma delas é a autorização do México para envio de carnes bovina e suína do Brasil para lá, negociação que se arrastou por mais de 20 anos. A comercialização de algodão para o Egito e de frango para Israel também são lembradas. O Brasil é o único país que exporta carne de aves a Israel.

“Podemos vender pela nossa qualidade, pelo nosso preço. Isso amplia mercados porque temos o selo kosher e podemos vender para todo judeu do mundo”, completou o ministro. Para 2024, Fávaro projeta novas aberturas de mercado. “Isso abre oportunidades gigantes de o setor privado ir atrás buscando negócios”, apontou.

O ministro também quer dar tração a inovações no financiamento ao setor agropecuário, na esteira da linha dolarizada lançada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a pedido do ministério para financiar máquinas, equipamentos e armazéns, que já liberou o equivalente a mais de R$ 3,2 bilhões desde abril.

“A linha em dólar já ficou do tamanho do Moderfrota, com juros bastante competitivos”, lembrou. O objetivo é expandir a medida para financiar também operações de custeio. Na área de política agrícola, Fávaro contará com o reforço de Neri Geller em 2024, que assumiu o cargo de secretário em 22 de dezembro após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverter a decisão que cassou seu mandato na Câmara dos Deputados no ano passado e o tornou inelegível.

Outro objetivo de Fávaro é avançar nas conversas com Banco Central e Receita Federal para regulamentar o acesso de pequenos e médios produtores rurais por meio do Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), mecanismo utilizado atualmente por grandes empresários do setor que fazem exportação direta.

Esse tipo de operação é vista como mais barata e menos burocrática para acessar recursos em moeda estrangeira pelo setor. A negociação para ampliar o escopo da medida, no entanto, também depende de entendimento com as tradings agrícolas, que precisariam fornecer informações para comprovar a venda dos grãos de agricultores financiados pelo ACC.

O ministro mencionou a vontade de fortalecer as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), principal fonte de recursos desembolsados do Plano Safra 2023/24 até agora. “Queremos simplificar para ter mais competitividade e irrigar mais o mercado com recursos”, disse. Uma ideia é permitir que o BNDES volte a emitir o título.

“As linhas equalizadas do Tesouro Nacional nunca serão suficientes para atender os produtores”, alertou Fávaro. Ele disse que é preciso buscar mecanismos privados para atender a demanda para custear as safras, que está próxima de R$ 1 trilhão por ano. “E ainda estamos trabalhando para intensificar e incorporar mais 40 milhões de hectares. Não há Tesouro, não há orçamento público que financie isso. Temos que achar alternativas, buscar no mundo recursos mais baratos para financiar essa agropecuária, dar certeza de liquidez, de dinheiro disponível”, indicou. 

Seguro rural

Um desafio é melhorar o seguro rural, ainda mais em tempos de clima instável e adverso no campo. A meta era conseguir R$ 2 bilhões para a subvenção de apólices em 2024, o que não se concretizou. A Lei Orçamentária Anual aprovada no Congresso Nacional destinou R$ 964,5 milhões, abaixo do valor inicial sugerido pelo governo, de R$ 1,06 bilhão.

Outro desafio, o de aproximação do agronegócio com o governo, começou a ser superado em 2023, na visão do ministro. “Conseguimos desmistificar que o governo do presidente Lula seria um governo que não teria a agropecuária como boa aliada”, disse. Representantes do agronegócio, no entanto, mantêm as reclamações contra decisões do Planalto, falas de Lula e, principalmente, da proximidade do Executivo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que voltou a invadir fazendas em 2023.

“Aqueles momentos ainda ríspidos do começo do ano, de ações desagradáveis, de falas desnecessárias ficaram para trás. A grande maioria dos produtores e o governo entendem que é hora de trabalhar, olhar pra frente”, emendou Fávaro. Em um dos episódios mais marcantes dessa relação conturbada, o ministro afirmou que foi “desconvidado” pela direção da Agrishow, maior feira de agronegócios do país, para participar da abertura do evento por conta da presença do ex-presidente Jair Bolsonaro na cerimônia.

 Ministro Carlos FávaroFoto: Guilherme Martimon/Mapa

Fonte: Globo Rural

28/12/2023

Newsletter