O mercado lácteo tem passado por vários desafios. O ano de 2023 foi marcado por uma queda nos preços e importações em níveis recordes, que impactaram fortemente o setor. Apesar disso, o setor conseguiu crescer cerca de 2,5% na captação formal do ano passado, segundo o IBGE.
O ano de 2024, também iniciou com dificuldades e com resultados positivos na captação. Com um total de 6,21 bilhões de litros de leite captados no trimestre, a variação em relação ao 1º trimestre de 2023 chegou a 3,3%. Vale ressaltar que parte da variação se deve ao fato de 2024 ser um ano bissexto e o mês de fevereiro ter um dia a mais, sendo assim, a variação obtida ao igualar o número de dias do 1º trimestre de 2024 e o mesmo período de 2023 foi de 2,2%
Para aprofundar a análise desse cenário e prever tendências do mercado lácteo, o podcast “Ouça Agro”, do Sistema CNA/Senar que aborda assuntos do setor agropecuário, notícias, tendências de mercado, educação e formação profissional, convidou o CEO da MilkPoint Ventures, Marcelo Carvalho, para uma conversa com a Natália Fernandes, coordenadora do núcleo de inteligência de mercado da CNAE.
Na conversa, Marcelo destacou que é difícil analisar o setor lácteo sob uma única perspectiva, explicando que o setor é muito heterogêneo. “Alguém está crescendo, alguém está saindo da atividade e alguém está tendo dificuldades.”, explicou.
Essa complexidade também foi tema no podcast “Negócios do Agro”, com Fábio Torquato. Marcelo ressaltou que a cadeia do leite envolve produtores e indústrias de laticínios de diferentes portes e mercados, o que dificulta tanto as discussões sobre políticas comuns quanto a coordenação eficiente entre produtores e indústria.
Apesar das dificuldades, o CEO da MilkPoint Ventures, enfatizou que "a cadeia leiteira está passando por uma transformação intensa de tecnologia, produtividade e eficiência." Como dessa transformação, ele cita os investimentos em sistemas confinados. Segundo Marcelo, a questão central para os produtores hoje é entender o que precisa ser feito em seus negócios para se manterem relevantes e competitivos no futuro. Ele afirmou que, apesar das crises, "ainda vemos produtores crescendo e investindo na atividade”.
Um dos maiores desafios apontados por Marcelo, além da complexidade do setor, são os custos de produção, que aumentaram acima da inflação geral, quando se analisa os últimos 15 anos. Ele afirmou que “o jeito de contornar isso é aumentar a nossa eficiência para tentar ganhar um pouco dessa perda de competitividade.” Além disso, ele observou que os laticínios não conseguem repassar esses custos ao consumidor final sem prejudicar o consumo, além de aumentar a vulnerabilidade em relação às importações. “Se os preços aumentarem muito, para compensar o aumento dos custos, teremos uma queda no consumo de um lado e ficamos fragilizados em relação as importações.”
Marcelo também abordou o impacto das importações e a competitividade internacional, enfatizando que "historicamente, o Brasil não é competitivo no mercado internacional de lácteos." Ele destacou as práticas de países vizinhos, como a Argentina, que conseguem reduzir os custos de produção de leite por meio de políticas internas, tornando seus produtos mais competitivos.
A maneira de resolver isso, estruturalmente, é aumentar a competitividade média. “Temos produtores muito competitivos, que possuem o padrão de custos e eficiência compatível com os melhores produtores de outros países. O problema é que isso não é a média ainda, a nossa ineficiência média está refletida nos preços.”
Embora o primeiro semestre de 2024 tenha sido mais desafiador que o mesmo período de 2023, Marcelo acredita que o segundo semestre trará uma melhora na rentabilidade, graças à queda nos custos de milho e soja e a preços superiores aos do segundo semestre de 2023. "Tendemos a oferecer melhor rentabilidade ao produtor se considerarmos as tendências", comentou. No entanto, ele alerta que é importante não se acomodar, devido à incerteza política e econômica que pode impactar o consumo e os preços no varejo.
Marcelo também destacou a necessidade de pensar em ações de longo prazo, voltadas para a melhoria da produtividade, da eficiência dos fatores de produção e da gestão financeira. Ele acredita que o setor precisa atrair mais investimentos e que programas de sustentabilidade, como a produção de biogás e a integração de culturas, têm um enorme potencial para beneficiar o setor.
Por fim, Marcelo fez um apelo para que o setor lácteo invista mais tempo planejando seu futuro, evitando focar apenas em questões de curto prazo, como importações e tributações. Ele ressaltou a importância da digitalização e da inclusão dos pequenos produtores nesse processo, destacando o papel das cooperativas, entidades e empresas na fomentação do processo.
Foto: Pixabay
Fonte: MilkPoint